quarta-feira, 17 de outubro de 2018


CONSCIÊNCIA

(motivado pelo texto “OS DIAS DA MEMÓRIA E DA INTERROGAÇÃO” de Anselmo Borges – DN 02nov2013)


A consciência é “coisa” imaterial. Há a consciência individual, e consciência colectiva que se revela na individual, sendo que a colectiva é, mais do que a primeira, de cariz cultural.
A consciência individual é transitória e finita. O que permanece, são as suas consequências na consciência comum; na comunhão das consciências.
O espaço do colectivo é o lugar (imaterial, mais uma vez) onde se caldeiam as consciências, onde se aferem e onde se criam, refundem e formulam como coisa dialética, novas consciências.
A ideia de quem somos, porque somos e como somos, constitui o triângulo da consciência. A capacidade de nos vermos “por fora”, a noção da nossa finitude individual e provavelmente enquanto espécie, dá-nos uma perspectiva que os gnósticos acreditam ter uma finalidade determinada por uma “certa” vontade divina.
Sugeri, na circunstância do desastre de Chernobyl, (Abril de 1986) que o destino último dos humanos é o de seremos “fazedores de estrelas”, conseguindo com esse acto último, aproximarmo-nos ou confundirmo-nos com os atributos de Deus. E como Deus a existir, seria intemporal, a humanidade toda unificar-se-ia com a divindade ao tornar-se igualmente intemporal, pela dispersão física e regressão dos átomos que nos constituem ou com a criação de novos, assim como do sítio cósmico que habitamos.
Ora sendo a consciência imaterial, poderia admitir a sua persistência para além do apocalipse? Isso não me parece provável, porque tal como o projecto só existe a partir do risco do arquitecto, e o mais belo dospensamentos só existe a partir do momento em que lhe é dado um corpo, tal como a grandiosidade da obra só se manifesta pela utilização da pedra ou do aço pois não basta o pensamento do autor para que exista, do mesmo modo, a consciência é suportada por processos físico-químicos.
Mesmo que tal fosse possível, como nos podemos atrever à afirmação ou mera suspeição de que a consciência seria a última, única e perene “pegada” da humanidade?
Na ausência de quem pudesse testemunhar a intemporalidade última da consciência para lá da destruição física do consciente, parece-me fútil, inconsequente e intelectualmente desonesto, que contornando a questão da fé, afirmar (porque a afirmam), a “eternidade” dessa componente da condição humana.
No mundo da fantasia, tudo podemos conceber, mas libertos da ingenuidade infantil de acreditar serem reais os desenhos animados. Na verdade eles existem, mas com a sua qualidade própria de produto fantasiado.
A fé só por si, não pode dar cobertura a tudo, sobretudo quando se criam postulados que não são comprováveis. Só o que é testemunhável ou comprovável pode ser afirmado.
Coisa distinta e que não nego, é o direito de cada um fantasiar uma hipotética “tábua de salvação” partilhando a sua fantasia, como eu próprio partilho as minhas, mas que o bom senso me impede de impor como verdade.
  
Vela Latina 03nov2013.09.10



Na morte o homem é confrontado com o nada e angustia-se face a algo de concreto que nos ameaça e de que temos medo”.

 Quando chegar a minha hora, se eu tiver a consciência da morte eminente, não sei como irei reagir.
Em criança foi-me inculcado o medo da morte. Via as pessoas chorarem nos velórios e nos funerais. Pensava que o choro das carpideiras era dor verdadeira.
A recusa e o medo da dor é real, sendo um elemento básico para a sobrevivência. Tinha, até à experiência da guerra colonial, o medo de morrer.
Ensinaram-nos a ter medo da morte. Ao mesmo tempo tentavam convencer-nos de que o “Depois” é um estádio qualitativamente superior, para quem não for condenado aos infernos (outra figura do tipo, Olha o velho do saco). Não deveríamos ter, por esse motivo, medo da morte.
Mas fazer acreditar que a “vida no céu” existe, cria naturalmente um estado de ansiedade, de insegurança, devido ao medo de não se ser selecionado. Penso que é uma manifestação de cariz cultural numa dimensão educativa.
Há pessoas que sendo gnósticas, agnósticas e até ateias, morrem tranquilamente.
Mas o que é que de concreto nos ameaça na morte? Nada! O “Desconhecido” não existe, ninguém pode afirmar que ele está lá do outro lado à nossa espera.
O verdadeiro desconhecido é algo inerente à vida real. Está presente no quotidiano.
É o ingrediente essencial do instante seguinte. Na verdade somos especialistas no confronto com o desconhecido. É o que nos alicia, nos convida a percorrer o caminho do crescimento individual, das aprendizagens, da conquista do saber, da invenção da amizade, da solidariedade, da ética, elementos entre outros, do percurso para a evolução da espécie.
A morte, nada nos rouba. Nem tão pouco deve abafar-nos de tristeza.
Desde que não perspectivemos “o Além”, a morte constitui o epílogo, o momento último da vida que tudo nos deu.
Eu gostaria de no momento da morte, congratular-me com tudo o que tenho usufruído pelo facto de viver. Com os benefícios que a aventura da humanidade me proporcionou.
Gostaria de no momento da morte, sentir a doçura de enquanto amigo, professor, artista e pensador, pai e avô, ter sido capaz de passar o testemunho àqueles que irão, por sua vez, desempenhar o papel de portadores dos valores dignificadores da vida e da existência em geral, contra a ignorância, a maldade, a cobiça, em prol da harmonia entre os indivíduos e os povos, e destes com o planeta, de que em última instância somos parte integrante.
Porque o céu está na nossa consciência, e porque os infernos somos nós que por inépcia ou devido a pressões externas, os fazemos, não descortino fundamentos para a existência nem sinto a necessidade de um Deus, para me sentir em paz comigo e com o mundo, para morrer tranquilamente quando chegar a hora.
09.49
(segue-se a leitura do 3º parágrafo)

O que permanece, são as suas consequências na consciência comum; na comunhão das consciências…



Candidatos a fazedores de infernos.
(texto original)


Há um ser vivo,
redondo
espacial…
Um mundo lindo
azul,
sem igual,
com um equilíbrio
ecológico
original.

E nele,
uma espécie de micróbios
convencidos (para seu mal),
portadores de um vírus
tecnológico fatal,
de um sentimento
de conquista
territorial,
de uma ânsia
de poder
total.
Mas tanta vida banida
à escala mundial
por vontade do poderoso
micróbio racional,
cria uma sensação
de insegurança
geral.

Procura-se remédio
para curar este mal.

Escrevi este poema há cerca de vinte e cinco anos.
Hoje a Califórnia, em Julho o incêndio que devorou a Grécia transformando todo o Peloponeso num imenso braseiro, fizeram-me fantasiar a hipótese de todo o planeta em chamas.
Quando ardeu Chernobyl imaginei que o urânio em fusão, por ter o átomo mais pesado que qualquer outra matéria, poderia eventualmente, afundar-se até ao núcleo do planeta originando uma imensa explosão nuclear que se estenderia a todo o sistema solar com uma magnitude superior à do Sol. Um “acontecimento” desses, devendo-se mais aos responsáveis políticos do que aos cientistas, justificaria para a Humanidade o epíteto póstumo de “Fazedores de estrelas”.
Antes aconteceu Hiroxima e Nagasaki.
São relativamente recentes as informações sobre atentados ao ambiente, provocados pelo homem, mas desde que me lembro, ouço falar de guerras. Variados ao longo da história, inventam-se sempre novos pretextos, e a notícia delas, é profusa, instantânea, persistente, penetrante.
Por oposição, lê-se que nunca se falou tanto de paz e acredito, que a convergência em busca dela seja proporcional à extensão dos conflitos. Pertencente ao passado, o espírito de aldeia auto-suficiente solidário apesar de tudo, a noção de território expandiu-se, a realidade conhecida diversificou-se, e com estas mudanças tanto a agressão como o entendimento são mais globais.
O Apocalipse, conceito bíblico, é anunciado por adivinhos e profetas desde há milhares de anos. Quando eu tinha nove ou dez anos as mulheres (principalmente), encheram a igreja da minha aldeia apavoradas, pedindo a Deus a salvação, sua e dos seus, porque o mundo ia acabar dali a dias. Afinal não acabou.
Nos anos oitenta, um dos meus projectos favoritos era conceber e desenhar abrigos nucleares, contra a latente guerra global, “garantida” pelos dois grandes blocos imperialistas, na corrida à hegemonia dos povos. Desses anos, saudavelmente, ficaram apenas alguns, poucos, poemas de conflito e de morte.
Cobiça, exploração do semelhante, violência gratuita, apetite de poder, isolados ou associados, estão sempre presentes em todos os

conflitos. Até mesmo as motivações religiosas não se conseguem dissociar de qualquer forma de poder.
O humano é, até se provar o contrário, o único ser da Natureza que reivindica os seus direitos de propriedade e arbítrio sobre o planeta e arredores. Fá-lo provavelmente, pela mesma razão porque alguns de entre os homens, ascendem ao lugar de monarcas “por direito divino,” “Deus criou o Homem à sua imagem e semelhança e deu-lhe a Terra e tudo o que nela havia”. (Génesis).
O uso da ciência e sobretudo da tecnologia, perspectivadas com a finalidade de melhorar as condições de vida, e a promessa de libertar o homem para a elevação do espírito, revela-se um fiasco, e tornaram-se em simultâneo com as vantagens inegáveis, instrumentos para confortos exagerados. Todos os dias se inventam necessidades novas; A relação das necessidades com os recursos alterou-se historicamente e está definitivamente desequilibrada.
(Há uma espécie de aranhas que ao nascer devoram a mãe, mas que dispõem de um lugar e meios para repetir a acção predadora indefinidamente).
E o Homem que faz? O progresso e conforto pagam-se no futuro; mas o futuro só deixa vislumbrar uma imensa bancarrota ecológica.
As florestas são queimadas, as cidades arrasadas, o ozono desaparece, os glaciares liquefazem-se, surpreendem-nos novas doenças. Que esperança nos resta?
Razão porque hoje, surpreendi uma ideia parasita a assediar-me o pensamento:
“Afinal quem criou o Homem foi o Diabo, tentando fazê-lo à semelhança de Deus.
 Se o conseguisse colocar-se-ia num patamar supra divino”.

Os Homens poderão não tornar-se em fazedores de estrelas, mas são sérios candidatos a fazedores de infernos.

Entre os meridianos 45º e 60º(W) a 36.000 pés de altitude - sentido leste oeste 530 mph, -50º
27Out200720h30m

Fernando Fonseca






A QUESTÃO DA NATALIDADE




Morreu ontem com quase cento e um anos, o antropólogo Claude Lévi-Srauss. Segundo comentou por ocasião dos seus noventa anos, a população mundial seria em 1910, cerca de 2.000.000.000 de pessoas. Durante o período em que viveu, aquele número triplicou.
Somos nesta data 6.812.000.000.
Em modo de celebração por ter existido este filósofo, decidi tecer algumas considerações acerca do problema da natalidade, que preocupa, de dois modos diferentes.
A Europa preocupa-se com a diminuição dos nascimentos. Do lado oposto, a R.P. da China estabeleceu leis drásticas para limitar a procriação.
Por partes:
Em Portugal, os meios os políticos, consideram alarmante o envelhecimento da população, resultante de dois factores; os poucos nascimentos e o aumento da longevidade. Esta preocupação, por duas ordens de razões deve-se à questão de fundos para a segurança social, mas também pelo receio de um dia não haver portugueses que cheguem, para continuar Portugal.
No que se refere a que os poucos nascimentos contribuem para a desertificação do interior, parece-me uma falsa questão.
O abandono das regiões rurais é consequência da modernização e dos novos estilos de vida que proporciona, diria, aquilo que se convencionou chamar de conforto e que constitui de modo geral, uma ditadura do consumismo.
Os custos da dinâmica concentracionista no litoral, não seriam menores do que os de uma política de desenvolvimento e de criação de estruturas básicas, numa perspectiva ecológica valorizadora do homem nas suas regiões de origem.
Este êxodo, contribui directamente para uma cultura de desconhecimento e ou de eliminação, de competências efectivas ao nível do sector primário.
É um não saber, que no futuro acarretará custos elevadíssimos para as sociedades e que muito dificilmente terá um retrocesso.
Esta civilização criou a ilusão de que é mais fácil adquirir os bens essenciais, e atrás deles, os outros que definem a modernidade. Na verdade, retirar alimentos das prateleiras de um hiper-mercado é mais cómodo no imediato, e dá a ilusão de que tudo se obtém sem esforço.
O reverso, a que o cidadão não é capaz de se opor, sujeita-o a situações que implicam uma relação insegura com o trabalho, mais exactamente na sua versão, emprego. O funcionário, não sendo directamente responsável pelo processo, perde geralmente de vista o valor do seu contributo, e desse modo desresponsabiliza-se da qualidade e da sua implicação no social. (3)
Esta deslocação de parte significativa da população para sectores secundários e serviços, desequilibra a relação produção/consumo dos bens essenciais, mais especificamente os alimentares e equipamentos.

Ao mesmo tempo que se reduz a produção, novas exigências consumistas somam-se às necessidades básicas, traduzindo-se no aumento das importações.
Provavelmente, tempo virá em que se sinta de modo efectivo a necessidade de inverter as políticas, e se opte por uma nova redistribuição das populações pelo território.
A dialéctica da História se encarregará de garantir que os modelos de produção anteriores aos anos 60/XX, não se voltem a repetir. Mas também não se espere que as tecnologias, sejam electrónicas ou biológicas, venham resolver a totalidade das necessidades humanas.
Até porque ao mesmo tempo, tem crescido a consciência ecológica e um sentido de responsabilidade na gestão equilibrada dos recursos planetários. (4)
Por outro lado, é utilizado um argumento de cariz nacionalista, provinciano e egocêntrico, que não leva em conta o crescimento exponencial da população humana. Parece que algo impede de enxergar para lá do quintal, ignorando grosseiramente que por este andar, se esgota a capacidade de o Planeta sustentar tantos biliões de habitantes.
Simultaneamente é chocante a destruição pública de alimentos às toneladas, sob os mais variados pretextos.
Parece que os responsáveis pelas políticas nos diversos países desenvolvidos, não querem considerar que uma das consequências do aquecimento global, até recentemente contestado como um facto, será a inundação de extensas áreas de terras produtivas. (5)
Uma das preocupações mais visíveis dos governantes europeus e de parte significativa das populações, ainda arreigadas a nacionalismos xenófobos cujas raízes são difíceis de apagar da memória, é a que se liga com a emigração, com destaque para as questões étnicas e culturais.
Os europeus, a que me refiro, têm medo que a dinâmica dos povos, lhes reserve o mesmo destino dos povos vitimados pela diáspora branca.
Ao longo de milhares de anos foram criadas gigantescas barreiras fronteiriças para tentar impedir migrações de povos devido a razões muito variadas, e que pudessem por em causa a segurança dos impérios construtores de barreiras. (5)
As mais recentes ainda em construção, impedem não já acções bélicas, mas êxodos motivados pelo enorme desequilíbrio económico entre os países desenvolvidos e os outros em vias de desenvolvimento, ou aqueles onde a miséria humana é generalizada. As populações, curiosamente não tanto as mais desfavorecidas, mas aquelas que se encontram numa situação de charneira, procuram a “qualidade de vida” e o seu lugar junto do “Deus Consumismo”.
Estas barreiras parecem-me actos desesperados ineficazes a médio prazo.
O mais emblemático dos nossos tempos, derrubado faz por estes dias vinte anos, o de Berlim, fortemente militarizado, caiu porque a correlação de forças dos dois impérios rivais se alterou.
A sua queda foi um sinal de que, por muito poderosos que sejam os Estados, as dinâmicas dos povos são muito mais fortes que o poder das armas, quer seja pela diplomacia, pelo diálogo cultural ou simplesmente pelo “gota a gota” através do processo iniciado pela necessidade que os países desenvolvidos têm de mão-de-obra. Sem excluir os movimentos autóctones de saturação pelas situações políticas e sociais.
Curiosamente é esta mão-de-obra, necessária para colmatar os desequilíbrios provocados pela deslocação de populações atrás referidas. Os imigrantes vêm fazer o que os nacionais já não sabem, ou não querem fazer, por considerarem que certos eles se arrogam.
Alimentam essa atitude, certas políticas de segurança social, que subvencionam níveis de sobrevivência sem critérios eficazes de fiscalização e sem contrapartidas de retorno solidárias.
A agravar falsas ideias, os ícones do progresso; o bem-estar, o mito de que a vida é sempre risonha e colorida como um mundo encantado, dando a ideia de que a fortuna se obtém bastando accionar uma roda da sorte, constituem sobretudo na Europa e nos EUA, um pacote informativo/deformativo emitido via satélite para os lugares mais recônditos do planeta.
A própria cultura ocidental numa dinâmica em roda livre, sem se aperceber do impacto fora dos seus territórios, cria e difunde o mito de que aqui é o paraíso terrestre apetecido aos desafortunados do terceiro mundo.
Começando por aceitar por necessidade a emigração, vê-se confrontada com afluxos excessivos que desestabilizam os “status” dos seus sistemas.
Como não tem havido políticas de integração e aquilo que se tem feito produz efeitos perniciosos, os forasteiros vêem-se compelidos a guetos físicos e culturais, onde as idiossincrasias têm o seu papel gregário importante, nas suas dimensões etnias culturais e religiosas.
Penso por vezes que foi intencional a ausência de políticas de integração não só por motivos financeiros pois tinha os seus custos, que não eram vistos como um investimento, mas também porque privando os imigrantes de conforto não desincentivava o fenómeno das “chamadas”. A marginalização aliada à pobreza, pretende constituir um factor de insegurança e desmobilização, para futuros e eventuais clandestinos. Não se contava na época, com a força que a miséria imprime nas vontades.
O que se verifica de facto é que os factores gregários tendem a originar colónias que com o tempo, acabam por exercer pressões inevitáveis sobre os poderes. Pressões diversas, acabam por induzir medidas de minimização que nunca fizeram parte do pacote de intenções iniciais, porque entendiam os governantes que as migrações seriam provisórias.
A integração acessível, primeiro ao nível económico para indivíduos restritos, tem grandes dificuldades salvo raríssimas excepções, em acontecer ao nível do social. Com maior resistência nos núcleos familiares, dá nova visibilidade à questão étnica e religiosa mais do que a qualquer outro aspecto.
Só numa perspectiva cultural mais alargada poderá verificar-se uma miscigenação criadora de novos perfis culturais e de outra imagem de um povo.

É o que tem acontecido, se dermos atenção à História sobretudo da Europa, onde as populações encaram com a maior naturalidade até no interior da mesma família, a presença de louros, ruivos e morenos, de olhos azuis ou castanho, e toda uma tipologia de estruturas físicas e de rostos.
Sobretudo agora que se assume a era da globalização, com a redução do tempo das viagens e a irrelevância das distâncias, seria bom não perder de vista o percurso da Humanidade, reconhecer que as diferenças étnicas se devem sobretudo a extensos isolamentos que se perdem no tempo e na memória, e que o que parece inegável é que a Família Humana não tem outro caminho senão o do reencontro genético.
Passos ainda tímidos mas onde podemos descortinar algum significado, é o da valorização de desportistas sobretudo de origem africana, e o quase endeusamento de padrões de beleza que não a caucasiana. Beleza a que têm sido sensíveis diversos protagonistas do mesticismo, quase sempre sob a reprovação conservadora de classes dominantes e daqueles que a elas se cingiam.
Simbólico acima de tudo, principalmente por ter acontecido nos EUA, foi a eleição de Barak Obama à presidência do país actualmente mais poderoso do mundo. Há, pois, que entender a questão da natalidade, não no ponto de vista nacionalista, étnico ou meramente cultural (6) mas na consideração de sustentabilidade do planeta cujos recursos, ao contrário da proliferação humana têm sofrido reveses e delapidações irreversíveis.
Nesta perspectiva voltemos a atenção para o modo como a RPC tem encarado este problema.
O que nos chega pelos media, pode resumir-se em que cada casal não pode ter mais do que um filho.
Quando não são eficazes os métodos contraceptivos, o Estado determina aborto obrigatório para além do primeiro filho.
Entretanto o avanço tecnológico facilita a identificação do sexo dos fetos, permitindo-lhes eliminar preferencialmente, os de sexo feminino.
Estas medidas chocam o Ocidente que considera por um lado que os filhos são uma dádiva divina, por outro, na perspectiva dos direitos humanos choca, negar a geração de famílias numerosas, valorizadas como um meio adequado às aprendizagens do convívio entre as pessoas e propiciadora de hábitos de entreajuda e de solidariedade.
Após a segunda Grande Guerra, as famílias do centro da Europa começaram a reduzir o número de filhos, quer fosse pelo trauma da guerra que tinham vivido, quer pelos custos de uma família alargada, significarem menor capitação do agregado, claramente no ponto de vista capitalista em que o dinheiro passou a ser o grande condicionador do nível de vida. Aconteceu mais nos meios urbanos do que nos campos, onde uma família numerosa continuou a ser garantia de produções abastadas.
A China actual, preparando-se para ser potência dominante antes do meio do século, já não é a mesma que Mao arrancou do modelo medieval.

O maoísmo, inscrevendo nos seus desígnios a construção de uma nação moderna, teve necessariamente que fazer uma avaliação dos recursos disponíveis.
Com uma população na época, de cerca de 800.000.000 que pretendia impregnar dos princípios marxistas igualitários, tinha forçosamente que enquadrar cada um dos seus habitantes em comités que, articulados ferreamente, facilitariam a “educação” do povo.
Fazendo falta, todos os homens e mulheres na máquina do “progresso”, bastaria que cada casal contribuísse com a descendência suficiente para a manutenção da população.
O Poder tinha noção de que, o seu quase bilião de habitantes, só por si, já constituía factor de contenção, para que outros impérios não arriscassem beliscar o gigante que dera provas significativas da sua força de vontade, com a que se tornou quase mítica, Longa Marcha.
Só que, os grandes ideais, quando passam a ser interpretados por actores que não estão na sua génese, acabam sempre por ser desvirtuados. Acresce que para se imporem, não podem deixar de arregimentar indivíduos para quem os ideais, são submersos pela ascensão de interesses pessoais ou de grupos e de lóbies.
O poder corrompe, diz-se. A corrupção é a táctica ideal para ascender vertiginosamente ao poder económico. As coligações de interesses constroem impérios económicos, que diferentes na essência dos impérios políticos, acabam por exercer condicionalismos que levam à submissão da política.
Abreviando; Na RPC coexistem populações inteiras na pobreza acentuada no limiar da subsistência, com escandalosas condições multimilionárias. Os tugúrios mais humildes, com a expressão da arquitectura de vanguarda.
Ao contrário da Europa, sendo a RPC o país com o menor índice de natalidade, é apesar de tudo, aquele que tem uma prática mais ajustada ao equilíbrio entre as populações e os recursos, sem receio da extinção enquanto nação; nem étnica nem cultural. (7)

Os últimos cinco séculos são o período da História em que uma população aparentada étnica e culturalmente, de expandiu dominando o planeta, contribuindo em muitos casos conhecidos, para a extinção de outros povos e de civilizações importantíssimas, conhecidas hoje unicamente com recurso à arqueologia.
Já lá vai o tempo em que era quase único, o chinês que vendia gravatas na Rua do Arsenal, ao Corpo Santo.
Depois do aparecimento dos restaurantes chineses, têm proliferado em Portugal as lojas chinesas, de tal modo que não há sede de Concelho, ou simples vila, que não tenha pelo menos uma, não me custando nada acreditar que o século XXI seja o século da diáspora chinesa, com o contributo que então poderão dar os casais chineses, com pelo menos o dobro dos filhos que têm agora. (8).
E que a população do planeta seja no século XXX maioritariamente bronzeada e de olhos amendoados.



(1)      Redução da população activa devido a menos nascimentos, mas também devido ao direito à reforma que remete para a inactividade uma parcela substancial da população muito deles ainda, com capacidade para intervir socialmente. A atracção pelos estilos de vida moderna, actua como um íman psicológico.
(2)      Pela referência às classes com maior poder económico, é considerada direito de cada um, que se viva acima das possibilidades económicas.
(3)      Acostumamo-nos a considerar que cabe aos políticos a tarefa de conduzir a
Sociedade, libertando-nos dessa preocupação. A percepção dos componentes e das 
         implicações próprias dessa gestão, porque se têm tornado mais complexas, é
         reduzida para a maioria dos cidadãos.
(4)    Fazer referência às questões energética já exploradas pela ficção, sugestivas de
indícios que permitem alertas consistentes.
(5)       Muralha da China com 6.700Km levou mais de 1.000 anos a construir.
Muralha de Adriano com 115Km.
Cortina de Ferro – (Muro de Berlim) com 155Km iniciado em 1961
Linha Verde de Chipre, com 180Km
Barreira de Belfast separando Católicos de Protestantes, curiosamente duas facções da mesma religião cristã.
Muro da Cisjordânia com 703Km
Barreira fronteiriça do México com EEUU com 1125Km
Barreira de Ceuta e Melilha contra a imigração clandestina.
Paralelo 38 fronteira militarizada das Coreias.
(6)    Entender que a única maneira de manter vivos valores culturais é a sua simbiose
com outras culturas resultando daí um enriquecimento recíproco
A mistura de culturas nunca foi redutora. Pelo contrário, a resistência obstinada, a recusa da outra é propiciadora de violências, essas sim eliminadoras das que dependendo de factores variados, for menos belicista, ou tiver menos atributos para ser aceite.
(7) Os vários Impérios chineses foram durante milhares de anos invadidos por povos
 de origem mongol. A força da cultura chinesa foi sempre tal que os invasores acabavam por prescindir das suas culturas originais tornando-se por sua vez chineses.
(8) Numa situação em que a população terrestre é já excessiva, uma eventual duplicação
da população chinesa a alimentar uma eventual diáspora, só poderia evitar-se a catástrofe, à custa de outras populações, repetindo-se, embora noutros moldes, as consequências verificadas aquando da expansão dos europeus.


Fernando Fonseca
Algés06NOV2009


MATEMÁTICAS



Matemática é razão. É lógica.
Revela o sentido das coisas, aquilo que nas coisas faz sentido.
Dizem os cientistas que o Universo é matemático. Sendo assim, nada do que contém escapa à lógica da matemática.
A substância das coisas, da física à química, é revelada e explicada pela matemática.
A estudante sentada ao meu lado desenvolve e resolve exercícios de álgebra sobre papel quadriculado ignorando a quadrícula com se o fizesse em papel liso.
Esta liberdade (?) escapa ao sentido matemático, à sua lógica e racionalidade? Parece que, se inscrevesse os algarismos nos espaços da quadrícula, sem prejuízo do resultado, estaria porventura a organizar matematicamente o produto do seu pensamento?
O pensamento, que se quer livre para ser criativo, poderá ser estruturado matematicamente?
Que ilusão nos leva a supor que a sua ordenação na quadrícula lhe retira a liberdade?
O fenómeno da vida está também provado e demonstrado matematicamente ou não fosse conteúdo, universal.
E a intuição? Poderá especular-se matematicamente? A intuição desenvolve-se com recurso a instrumentos sensoriais. A própria abstracção caldeia as várias dimensões dos sentidos, como uma bola saltitona que fazendo um jogo de pólos magnéticos, não estando em nenhum lugar concreto, acaba por estar em todo o lado. Algo como os Pontos de Lagrange, abstracção que se situa por razões matemáticas no sítio de equilíbrio/desequilíbrio determinado pelas gravidades diferenciadas de três astros (ou às vezes mais?); mas este sítio não está fixo, é como se fosse um nada que percorre indefinidamente regiões do espaço.
Assim, a imaginação que recorre a “imagens”, ou melhor, a  pseudo réplicas do real pela via sensorial, como pode escapar a uma razão matemática? Que matemática consegue (conseguirá?) explicar o pensamento?
O pensamento acontece pela interacção de informações alojadas num “banco de dados” e que parece terem dinâmica e autonomia próprias. Tentar explicar o fenómeno (os mecanismos?) do pensamento, será como explicar as imprevistas trajectórias de dez bolas saltitonas ou de dez mil, sobre uma qualquer superfície irregular, ou num espaço indeterminado.
O sonho é isso; é a interacção de informações que de comum só têm o sonhador. Poderá acontecer que a sua articulação, a construção de um significado, só se dê, quando as informações se aglutinam em volta, por exemplo, de uma emoção – os sonhos com história.
Perdem o sentido quando são “contaminadas”com informações “parasitas” provenientes de outra “prateleira”. O sonho é pensamento em roda livre.

A VONTADE
A vontade resulta, (será assim?) do instinto, o instinto de sobrevivência (receio que seja uma perspectiva redutora, mas avanço com ela…) e da experiência, como tal sujeita a aprendizagem.
Durante o sono não há vontade, porque a vontade é consciente. Sendo consciente pode organizar os pensamentos e inclusivamente pensar a própria matemática.







Então se se pode organizar matematicamente o imaginário, não será ela também, a vontade, um fenómeno matemático? Será possível definir a sua essência de um ponto de vista matemático?
Ou será aceitável que o pensamento possa trabalhar a matemática, porque se situe eventualmente fora dos conceitos matemáticos?

O EFEITO ESPELHO
Reflectir sobre esta questão faz-me pensar:
O pensamento é a mais recente manifestação da evolução (???). É o que permite ter a consciência do micro, e do macro cosmos, e ter consciência da própria consciência e dos comportamentos que sendo de cariz psicológico já não são matéria matematicamente explicável mas que emana das suas acções. O maquinista que determina a dinâmica do comboio, vai na carruagem da frente e, portanto, não vê a complexidade daquilo que reboca.
O homem, podendo ver os outros homens, só pode ver-se a si próprio com recurso a um elemento reflector. A água em repouso, uma superfície sólida polida.
Como precisamos de artefactos (espelho) para ver como somos, temos de recorrer a artifícios para descobrir quem somos.
O espelho retrovisor permite ao maquinista ver as carruagens.
O espelho da casa de banho permite vermo-nos a nós próprios, organizar o nosso aspecto físico e actuar sobre a componente social, mercê de uma interface entre a entidade e a sua imagem. Permite estabelecer uma relação pessoa-objecto de análise, para se entender, organizar, e actuar sobre o nosso aspecto físico e muitas vezes sobre o estado de espírito e até da saúde. Assim somos simultaneamente essência e exterioridade.
Esta condição ubíqua que nos permite consciencializar, permite igualmente alterar organizando, segundo a nossa vontade.
Será a vontade, simultaneamente essência e exterioridade? Matemática e não matemática?
Reflectir sobre as novas matemáticas do “caos” permite especular uma aproximação à natureza matemática do pensamento e da vontade?

Hosp. Ortop. De Carcavelos
08 Jan 2007 10h45-11h50
Se fosse vivo o meu pai faria hoje 93


Fernando Fonseca





Revisto em 27Nov2009 Lytham st Annes


MATEMÁTICAS



Matemática é razão. É lógica.
Revela o sentido das coisas, aquilo que nas coisas faz sentido.
Dizem os cientistas que o Universo é matemático. Sendo assim, nada do que contém escapa à lógica da matemática.
A substância das coisas, da física à química, é revelada e explicada pela matemática.
A estudante sentada ao meu lado desenvolve e resolve exercícios de álgebra sobre papel quadriculado ignorando a quadrícula com se o fizesse em papel liso.
Esta liberdade (?) escapa ao sentido matemático, à sua lógica e racionalidade? Se inscrevesse os algarismos nos espaços da quadrícula, sem prejuízo do resultado, estaria porventura a organizar matematicamente o produto do seu pensamento?
O pensamento, que se quer livre para ser criativo, poderá ser estruturado matematicamente?
Que ilusão nos leva a supor que a sua ordenação na quadrícula lhe retira a liberdade?
O fenómeno da vida está também provado e demonstrado e manipulado matematicamente, ou não fosse conteúdo universal.
E a intuição? Poderá especular-se matematicamente? A intuição desenvolve-se com recurso a instrumentos sensoriais. A própria abstracção caldeia as várias dimensões dos sentidos, como uma bola saltitona que fazendo um jogo de pólos magnéticos, não estando em nenhum lugar concreto, acaba por estar em todo o lado. Algo como os Pontos de Lagrange, abstracção que se situa por razões matemáticas no sítio de equilíbrio/desequilíbrio determinado pelas gravidades diferenciadas de três astros (ou às vezes mais?); mas este sítio não está fixo, é como se fosse um nada que percorre indefinidamente regiões do espaço.
Assim, a imaginação que recorre a “imagens”, ou melhor, a  pseudo réplicas do real pela via sensorial, como pode escapar a uma razão matemática? Que matemática consegue (conseguirá?) explicar o pensamento?
O pensamento acontece pela interacção de informações alojadas num “banco de dados” e que parece terem dinâmica e autonomia próprias. Tentar explicar o fenómeno (os mecanismos?) do pensamento, será como explicar as imprevistas trajectórias de dez bolas saltitonas ou de dez mil, sobre uma qualquer superfície irregular, ou num espaço indeterminado.
O sonho é isso; é a interacção de informações que de comum só têm o sonhador. Poderá acontecer que a sua articulação, a construção de um significado, só se dê, quando as informações se aglutinam em volta, por exemplo, de uma emoção – os sonhos com história.
Perdem o sentido quando são “contaminadas”com informações “parasitas” provenientes de outra “prateleira”. O sonho é pensamento em roda livre.

A VONTADE
A vontade resulta, (será assim?) do instinto, o instinto de sobrevivência (receio que seja uma perspectiva redutora, mas avanço com ela…) e da experiência, como tal sujeita a aprendizagem.
Durante o sono não há vontade, porque a vontade é consciente. Sendo consciente pode organizar os pensamentos e inclusivamente pensar a própria matemática.
Então se se pode organizar matematicamente o imaginário, não será ela também, a vontade, um fenómeno matemático? Será possível definir a sua essência de um ponto de vista matemático?
Ou será aceitável que o pensamento possa trabalhar a matemática, porque se situe eventualmente fora dos conceitos matemáticos?

O EFEITO ESPELHO
Reflectir sobre esta questão faz-me pensar:
O pensamento é a mais recente manifestação da evolução (???). É o que permite ter a consciência do micro, e do macro cosmos, e ter consciência da própria consciência e dos comportamentos que sendo de cariz psicológico já não são matéria matematicamente explicável mas que emana das suas acções. O maquinista que determina a dinâmica do comboio, vai na carruagem da frente e, portanto, não vê a complexidade daquilo que reboca.
O homem, podendo ver os outros homens, só pode ver-se a si próprio com recurso a um elemento reflector. A água em repouso, uma superfície sólida polida.
Como precisamos de artefactos (espelho) para ver como somos, temos de recorrer a artifícios para descobrir quem somos.
O espelho retrovisor permite ao maquinista ver as carruagens.
O espelho da casa de banho permite vermo-nos a nós próprios, organizar o nosso aspecto físico e actuar sobre a componente social, mercê de uma interface entre a entidade e a sua imagem. Permite estabelecer uma relação pessoa-objecto de análise, para se entender, organizar, e actuar sobre o nosso aspecto físico e muitas vezes sobre o estado de espírito e até da saúde. Assim somos simultaneamente essência e exterioridade.
Esta condição ubíqua que nos permite consciencializar, permite igualmente alterar organizando, segundo a nossa vontade.
Será a vontade, simultaneamente essência e exterioridade? Matemática e não matemática?
Reflectir sobre as novas matemáticas do “caos” permite especular uma aproximação à natureza matemática do pensamento e da vontade?

Hosp. Ortop. De Carcavelos
08 Jan 2007 10h45-11h50
Se fosse vivo o meu pai faria hoje 93


Fernando Fonseca





Revisto em 27Nov2009 Lytham st Annes


A CRISE E A PESCA COM CORVO-MARINHO



Portugal saiu à rua para exigir a demissão do governo de Passos Coelho.
Foi um desfile que só posso comparar com o do 1º de Maio de 1974.
Se há 39 anos se celebrava com alegria a libertação do povo português face ao jugo da ditadura de Salazar e Caetano, na de 2 de Março deixava transparecer uma tristeza tranquila de que só as palavras de ordem e o hino libertador de Grândola Vila Morena, revelavam um sinal de vitalidade, revelação quanto baste, de uma energia adormecida como a de um oceano de superfície tranquila, perante a contínua destruição das principais conquistas do 25 de Abril.
O regime democrático foi ao longo dos anos contaminado por figurantes da política que encontraram na meritória actividade, nada mais do que um meio para a obtenção de proveitos pessoais.
A ironia toda é que o regime democrático contém na sua natureza, espaço onde se anicham e prosperam aqueles que ao abrigo de leis cozinhadas a propósito, subvertem a causa pública, descredibilizam a actividade política e destroem a Democracia. A modalidade representativa de Democracia, dá-lhes cobertura para as suas sacanices, e o povo que os elege vê-se ludibriado sem possibilidade de recurso, perante as promessas sempre repetidas, a que se seguem depois das eleições, práticas inversas das razões que mobilizaram os eleitores.
Sem pudor, estes impostores reclama com arrogante desfaçatez a legitimidade do voto que os elevou à dominação, tanto de quem os apoiou, como daqueles que não se fiaram nas promessas velhas de falsidade. Abrigados nos quadriénios legislativos, são descaradamente os agentes da degradação económica, social e cultural do Povo.
O plurissecular vício governativo de “pedir emprestado” para que o país faça figura de rico, serve-se das crescentes dívidas resultantes como muletas, para afundarem cada vez mais as possibilidades nacionais de auto-suficiência. Outra geração, dos “vampiros” cantados por Zeca Afonso, aí estão; uns, a encherem-se quanto podem, outros, esperançados de que, quando este país não pertencer mais aos portugueses, serem premiados por aqueles que se enchem à custa de um povo cada vez mais exaurido, com empregos ou cargos estupendamente remunerados.

A maior tristeza neste processo, é que na ausência de uma alternativa clara e corajosa, nos estão a remeter para uma condição terceiro-mundista.
Quanto mais baixa for a remuneração do trabalho e mais desempregados houver, quando a fome alastrar nas famílias, mais depressa e submisso o povo lhes irá implorar uma tigela de sopa e uma côdea de pão para que os filhos não morram à míngua.
Parece quererem impor-nos uma indigência, justificadora da caridade daqueles que no processo retiram as mais-valias. Significativo disto, é apelo de Cavaco para que se pratique a caridade com os mais desfavorecidos. Deveria, isso sim, em vez de exigir ao governo medidas concretas para uma política solidária sob pena de demissão por incompetência.

Ao longo da história dos povos, houve incontáveis e variadas modalidades de escravização. Se umas eram legitimadas com o argumento da conquista, outras mais subtis e atuais, foram consequência de misérias impostas, na ausência de capacidade dos povos para se oporem aos poderosos. Todos foram esquemas de parasitismo, para exibir o esplendor de conquistadores.
Só há ricos porque há pobres. O mundo ocidental, rico, só evoluiu à custa da exploração dos povos maioritariamente do hemisfério sul. Nas economias desenvolvidas, quantos pobres serão precisos para fazer um rico? Roubando um euro a cada um num milhão de cidadãos, se faz um milionário.
Aqueles que acumulam o dinheiro, justificam a sua riqueza por herança de mão beijada, ou por direito divino sobre os outros homens, ou na atualidade pelas mais diversas razões, se acham mais merecedores da acumulação, por gerirem a riqueza produzida pelos que trabalham. Parecem ignorar, que sem aqueles, não há nenhuma gestão que por si só, produza riqueza.
Estes, e os governantes que os servem com enquadramentos legislativos que lhes defendem os estatutos, apregoam frequentemente que os pobres precisam dos ricos para terem trabalho. Grande falácia. Na verdade, os ricos é que precisam daqueles que trabalham, pois são estes os únicos que produzem e geram as riquezas que eles ostentam. Os donos do dinheiro acumulado tudo farão para eternizar o sistema, mantendo todo o povo se possível no limiar da sobrevivência como garantia da sua sujeição. Para isso, possibilitam-lhes conforto quanto baste, para que sintam um “arremedo de riqueza”. Depois, lá vem a caridade para dar uma ilusão de bondade hipócrita, ou quando muito para comprar um pedacinho node céu na balança do “juízo final”.

 As classes economicamente dominantes, - indivíduos, organizações, grandes impérios financeiros, - aplicam na prática, o método do pescador que explora as capacidades do corvo-marinho.

A ave mergulha para caçar o seu peixe, com uma corda ao pescoço suficientemente frouxa para não sufocar, mas bastante justa para que não possa engolir. No regresso à tona, o pescador tira-lhe o peixe grande e dá-lhe uma migalha que possa engolir. Ainda com fome, o corvo volta a mergulhar para regressar com outro peixe para o patrão e assim sucessivamente. O corvo come o suficiente para viver continuando a pescar, enquanto o dono amealha o rendimento do seu trabalho.

Quem acredita que os corvos marinhos precisam de dono?

É a metáfora que melhor caracteriza o sistema que os responsáveis pela atual crise querem manter.
Temos um presidente da república comprometido com este sistema, que não está qualificado para inverter o rumo para o descalabro total.

Tenho presente, que um povo escravizado, só pela força se liberta.

Algés, 03Março2013-03-03
Fernando Fonseca

O sonho e a 4ª dimensão


O SONHO E A QUARTA DIMENSÃO

A QUARTA DIMENSÃO – UTOPIA OU MISTIFICAÇÃO



Andam há quase duzentos anos, matemáticos e filósofos seguidos de mágicos e ilusionistas, médiuns e religiosos a especular acerca da 4ª dimensão. Busca que se desenvolve quer no plano do exoterismo quer no da área do experimentalismo, na tentativa de visualizar uma geometria que teima em escapar à realidade das leis da física, tal como são conhecidas na actual etapa do conhecimento.
Na informação a que tenho acedido, alguns destes pensadores levantaram a questão de caracter filosófico perfeitamente legítima, como são todas as questões que se debrucem sobre a essência da existência e do Universo; outros, seguem-nos como quem  embarca numa ideia em moda ou num comboio que inicia a marcha independentemente do destino que venha a ter, todos guiados por uma espécie de fé, promissora de que a 4ª dimensão exista, sem que até agora tenham sido detectados indícios irrefutáveis de que ela existe mesmo.
Penso que essas tentativas estarão condenadas ao impasse, tal como a tentativa de provar a existência de Deus. Esse, e concretamente no plural, a existir(em), nunca poderá ser provado; provavelmente, porque sendo um conceito criado pelo Homem, mais ou menos antropomórfico, foram-lhe/s atribuídas características, caprichos e mistérios reflexo das limitações humanas, mas apetrechadas de dons superiores a reflectir, suponho, as grandes e almejadas aspirações evolutivas do Homem.
Do pouco que tenho lido e das especulações que eu próprio me tenho atrevido a fazer e que incidem também na pergunta “Têm os homens verdadeiramente necessidade de deus?” considero que esse imaginário Ser Supremo, não é mais do que uma metáfora, bela metáfora, que tem alguns aspectos excelentes parcialmente expressos nas “três religiões do livro”, e com alguma diferença, no induísmo e no budismo, que para a humanidade seria profícuo prosseguir, e agregar nas nossas próprias características.
Assim, também sou levado a considerar, que a busca da 4ª dimensão sendo interessante enquanto especulação intelectual, sobretudo no aspecto filosófico e considerando a matemática uma ferramenta da filosofia, afigura-se-me como que uma espécie de busca do “Eldorado”.
Há cerca de 40 anos, muito antes de chegar até mim pela primeira vez o conceito de 4ª dimensão, escrevi um texto de origem onírica, a que chamei “Poema em Quatro Dimensões”, designação que lhe atribuí porque como relato que foi, de um sonho, tanto a linguagem como a experiência tridimensional eram insuficientes para o descrever, nomeadamente nos aspectos relacionados com as emoções, mas especialmente com uma espécie de aura imaterial que lhe dava a ambiência só possível na condição do onírico.
Essa insuficiência traduziu-se numa espécie de provocação, e na tentativa de ultrapassar as limitações da linguagem, habituei-me a relatar, escrevendo-os, os sonhos que me pareciam mais interessantes: Por um lado, pelo aspecto recreativo, mas principalmente porque me surpreendi com a capacidade da mente em construir enredos, desenvolver teses e chegar a conclusões, que julgo me seria praticamente impossível de atingir, no estado de vigília com o pensamento voluntário; por outro, porque me permitia experiências virtuais de situações que embora dúbias, me pareciam convincentes, e outras, que absolutamente escapam às leis da física; como voar, falar com pessoas que morreram há muito, ou simplesmente passar através das coisas.
Todas as tentativas concretas de visualização da 4ª D não tiveram resultado, senão a construção de modelos em 3D, como é o caso de Charles Hinton com o seu hipercubo e outros sólidos geométricos. Muito interessante como experiências construtivistas, nomeadamente o modelo que lhe permitia “ver” uma forma complexa e localizá-la no espaço pelo sistema de microcubos, que não posso deixar de perceber semelhanças com as representações em Geometria Descritiva.
Já o filósofo Piotr Ouspensky entre alguns outros na mesma linha de pensamento, aborda nas suas conjecturas, que me parecem não ter sido tão pretensiosas como a de outros pensadores da 4ªD, propõe-nos que nós humanos, somos concebidos por um hipotético Ser Superior, que poderia ser Deus, uma espécie de alma (cósmica e unívoca, interpreto eu) que habita os corpos da 3ªD. E acrescenta que, não se acreditando na dependência desse Ser Superior, somos de facto seres da 4ª D, embora uma parte de nós pertença ao universo tridimensional observável, (desconheço se nos considerava alguma espécie de avatar), concluindo que aquilo a que chamamos consciência reside na 4ª dimensão, que nele não é só um conceito espacial, englobando um mais vasto, o hiperespaço.
(Imp pag.3)
Parece que temos um tipo de consciência de nível bastante diferente dos outros animais, se bem que experiências recentes, tenham demonstrado noutros primatas mais próximos do Homo Sapiens, capacidades de reflexão quer de cálculo quer na expressão de emoções. Estes testes a serem verdadeiros, poderão demonstrar que aquilo a que chamamos consciência resulta da própria evolução, mercê do conhecimento do meio envolvente, das suas mutações físicas e melhoramento dos recursos mentais, inclusive pela evolução genética resultante de cruzamentos de diferenciados no ramo comum, potenciadores de uma melhor adaptação às alterações do seu ecossistema e determinantes para a segurança.
Isto leva-me a considerar que desde os rudimentares comportamentos de sobrevivência até àquilo que designamos por inteligência reflexiva, longo percurso se tem feito, associado às dimensões do tecido cerebral e ao confronto com condições cada vez mais complexas, e que a necessidade de as compreender alargando o conhecimento que se amplia também em complexidade, conduziu a uma capacidade reflexiva mais alargada.
Essa capacidade fez que o Homem não mais ficasse confinado a encarar unicamente a realidade próxima, mas numa postura de antecipação que diria estratégica, passou a ficcionar; primeiro, acerca de acontecimento possíveis a haver, na modalidade causa e efeito; mais tarde na tentativa de conhecer para lá dos seus horizontes que, entretanto, deixaram de ser estáticos.
Antecipar, pré-visualizando o que está atrás do penhasco ou da montanha, quer fosse a caça, quer fosse o perigo, exige uma viagem virtual que é um exercício da mente, ou seja, uma libertação do lugar no espaço real, todavia permanecendo nele.
A mente seria, segundo esta dissertação, a primeira componente humana a libertar-se das dimensões físicas. E isso não tem nada a ver com o “divino” ou com a “magia”. A ficção é na verdade um exercício libertador.

(imp.)
O artifício conhecido como “Fita de Mobius”, pretendendo ser uma demonstração do que aconteceria numa viagem à 4ª dimensão, não é mais do que uma operação física e como tal inerente à 3ªD de que não consegue escapar.
A 4ªD não foi encaixada comprovadamente nem na teoria dos universos paralelos nem na da curvatura do espaço. Talvez se esconda na teoria dos “Buracos Negros” onde alegadamente, o Tempo pára e o Espaço se comprime até um limite, a partir do qual se dará eventual rotura para originar o eclodir de um outro Universo.
Mas neste momento e até ver, a 4ªD é uma questão intelectual ficcionada pelo mistério inventado. Tudo o que a ela concerne é trabalho mental.
Pondo de lado o conceito egocentrista de que só existe aquilo que se pode pensar, não é verdade que pelo facto de pensarmos numa tal abstracção, ela passe a existir de facto.
Permanece como simples conjectura.
  
Por outro lado, só através do pensamento imaginativo, podemos libertar-nos da 3ªD. Estas reflexões levam a supor que é na mente que reside a 4ªD. É simultaneamente subjectiva e génese de objectividade. Pertence ao domínio da Utopia e como tal, é criativa na medida em que nos permite transfigurar a matéria gerando novas formas e objectos, conduz à exploração e tentativa de domínio do invisível, nomeadamente da energia, que já não é matéria, resultados inexistentes antes da intervenção humana.
Tudo tem que ser inventado antes de existir.
Sem necessidade de ir mais longe, atrevo-me a pensar, na senda de Piotr Ouspensky, mas em sentido oposto, que a 4ªD reside com manifestações diferenciadas, na mente de cada um de nós. Piotr atribui à mente a condição humana, mas vindo da 4ªD; eu acredito que é o trabalho mental que a constitui.
De todas as hipóteses a que tive a oportunidade de aceder, e o entendimento que elas me proporcionaram mais o pensamento a que a minha curiosidade me conduziu acerca das coisas (sempre incompleto), penso que tudo o que diz respeito à 4ªD é assunto da mente humana que não pára enquanto o nosso corpo lhe forneça a energia de que necessita, quer estejamos acordados quer estejamos a dormir. Enquanto no estado de vigília constrangidos ou condicionados pelo meio físico envolvente, pelas questões do quotidiano, compromissos morais ou contractuais, nos condicionam a sua actividade com todas essas preocupações, com os desejos ou com projectos concretos, com a única escapatória quando nos entregamos ao lazer, no sonho, já libertados por completo do jugo das questões de sobrevivência individual e colectiva, seja ela de cariz social ou cultural, a mente expande-se na sua função básica, liberta daqueles condicionalismos sobretudo de ordem moral e ocupa-se em arquivar registos a granel, conscientes ou inconscientes, a ensaiar conexões, a elaborar teses incompletas pelos mais diversos motivos, a jogar com todas as questões que o pensamento e a cultura local ou global agitam  no mundo e na vida real. É na mente que conseguimos libertar-nos da prisão da 3ª dimensão, que podemos instantaneamente viajar no tempo, quer para o passado quer imaginariamente para o futuro, ou no espaço cósmico já detectado e imaginar , só por gozo, as várias teorias acerca do Universo, ou mergulhar no microcosmo, visualizando-o, com recurso a modelos que reportam às descobertas matematicamente comprovadas pela física, ultrapassando limitações dos microscópios mais potentes. Observar ao vivo o comportamento de bactérias ou das células é uma realidade comparável à antiga especulação, que seria o atributo de um viajante que da 4ª dimensão, viesse até nós.
  
No sonho, em que a mente dispõe de total liberdade, podemos ser e não ser; estar presentes, mas invisíveis, assim como desdobrar lugares e acontecimentos, intercalar aleatoriamente passado e presente, mudar instantamente de lugar sem limite de distância, descortinar mistérios ainda não revelados, resolver problemas aparentemente irresolúveis, vermo-nos a nós próprios como se fossemos espíritos, distorcer os espaços e transformar com se fossemos mágicos, tudo noutra coisa qualquer. Possibilitar enfim, as impossibilidades.
Nada do que até agora li de teóricos como só possível na 4ª dimensão, fica de fora da experiência que substancia o sonho, inclusive a ausência de certos conceitos e linguagem que nos permitam descrever elementos que, circunscritos, ou envolvendo a componente narrável do sonho, são a essência imaterial que caracteriza estas “histórias” como sonhos, e assim, impossível de transpô-las para a esperiência tridimensional.
Apercebermo-nos inclusivamente de facetas da nossa própria personalidade, aspectos reprováveis pela cultura que nos molda, mas que se manifestam em reacções, atitudes e comportamentos radicados no mais profundo da natureza humana. Transportada esta observação para a experiência de Flatland, consideremos uma qualquer bactéria associada, p. ex. ao corpo humano, e imaginemos que ela tem consciência da sua própria existência e do “seu” mundo, e nada mais além do alcance dos seus sentidos, quaisquer que eles sejam. Com o microscópio adequado podemos observá-la e interferir no seu comportamento; ela não tem consciência de nós, mas se tivesse iria considerar-nos seres de uma dimensão superior? Esta conjectura seria tão natural como a dos habitantes de Flatland ao serem visitados pela esfera. A questão que coloco, é se se trata de dimensões diferentes ou se é somente uma questão de escala. Esta observação faz-me considerar que a ideia inicial acerca de uma 4ªD constituiu pura abstracção, não tendo havido no meio natural algo que a tivesse despertado.
A curiosidade acerca na natureza da vida, do mundo e do Universo têm a sua razão de ser porque são realidades ao alcance dos nossos sentidos. A busca da compreensão dessa sua natureza, fez-nos descobrir componentes invisíveis e insuspeitadas no início das descobertas que são complementares ou a causa dos equilíbrios que se reflectem nas leis da química ou da física.
A um passo, está a pergunta acerca da forma, dimensões, e infinitude ou limites do Universo. Ou se tudo isso é compatível com a possibilidade de pluriversos, qualquer que seja o modelo da sua co-existência.

Bem se tenta conceber modelos para visualizar essas imaginárias realidades, essas ficções acerca de múltiplos ou infinitos universos. A questão dos universos paralelos que tanto tem sido explorada na ficção científica com destaque para o cinema.
O conceito de paralelismo aplica-se na geometria euclidiana a rectas ou segmentos de recta, a planos, ou a figuras inscritas em planos paralelos entre si. Transportar a ideia de paralelismo para a 3ª dimensão e tomando como exemplo 2 cubos, estes só se podem considerar paralelos se duas, e, portanto, quatro das suas faces, tiverem essa propriedade. (a1//a2//b1//b2)
Como considerar duas esferas paralelas?
Quando leio acerca de universos paralelos, a ideia que se forma no meu pensamento é que se referem a co-integrados, ocupando reciprocamente o mesmo espaço. Prever-se-ia que ambos seriam materiais, mas está comprovado que o mesmo espaço não pode ser preenchido por dois corpos distintos. Isso só seria possível se houvesse um outro tipo de matéria actualmente inconcebível.
Numa tentativa de visualização, e como não posso pensar na forma de algo invisível, recorri a um aglomerado de espuma, que tive oportunidade de observar numa pequena queda de água, que escorria turbulenta numa vala após uma chuvada. Observei algo que pode ocorrer também quando fazemos bolas de sabão; a produção de múltiplas bolhas quase imateriais. Em ambas as observações, as bolhas que seriam semi-esféricas no regato ou esféricas na bola de sabão se feitas com alguma profusão, aglomeram-se e intersectam-se, co-integrando-se. Se cada um dos espaços encerrados pela finíssima superfície líquida quase “imaterializada” correspondesse a um “universo”, poderíamos dizer que aqueles inúmeros universos co-existiriam num “hiperespaço comum”, mas que a comunicação entre eles seria de todo impossível; qualquer tentativa de passagem, resultaria na destruição do sistema, portanto, irrealizável, pondo em causa o ponto de vista dos teóricos que anseiam descobrir um meio que permita viabilizar viagens entre universos. Mas com referência à questão de diferentes tipos de matérias para a possível co-existência dos chamados universos paralelos não se coloca, quer nas bolas de sabão, quer na espuma da cachoeira. A matéria que lhes possibilita a existência é a mesma, a sua composição química é igual, sendo sumariamente hidrogénio e oxigénio, na componente básica – a água (quase sempre contaminada); nas bolas de sabão acresce o potássio e algumas gorduras, qualquer que sejam os elementos químicos em presença; na espuma do mar, acresce o sal cujos componentes são o cloro e o sódio; na água barrenta do regato, são transportados dissolvidos, inúmeros e extensamente diversificados, sais, metais e outros elementos amorfos, com igual valor presencial em todas as bolhas. Portanto todos esses aglomerados que estou a equiparar a “universos (paralelos)”, têm a mesma composição conforme o meio onde são produzidos.
Quanto à questão dos limites destes pequenos “universos”; o que os limita é o ar envolvente que é composto maioritariamente por oxigénio, hidrogénio, azoto, hélio e uma infinidade de gazes raros, que podem eles mesmos estar presentes naquelas águas que evidentemente não são “puras”. Deduz-se que a atmosfera exterior seja semelhante, senão igual, á que ficou aprisionada em cada uma das bolhas em apreciação. O que as separa é a mesma água onde foram geradas, com as mesmas substâncias organizadas de modo diferente em função de temperaturas e pressões distintas, num equilíbrio de tensões das respectivas atmosferas; interna e externa. Condições instáveis sempre a prazo, dependendo da temperatura atmosférica envolvente e da própria temperatura do espaço encerrado, associadas à evaporação das películas, e da maior ou menor perturbação atmosférica.
Tudo transitório, finito, contido num relativo período de tempo.
(Acho que a dinâmica das bolas de sabão merece um estudo sério, que me daria gosto esclarecer, mas certamente muito além das minhas capacidades).
Serão as imagens interpretadas pelo processo de pareidolia, um exemplo de como uma dimensão superior, nos permite atribuir uma referência para com coisas reais, nomeadamente zoomórficos, a que me tenho dedicado com recurso à fotografia, desde há uns anos para cá, como sendo o processo pelo qual, pela arte, se produzem artefactos, desenho ou pintura e outros em 2D, mas que interpretamos como representações emanantes do plano, tridimensionais? E que pensar do mundo da informática, com as possibilidades que nos proporciona, de concentrar numa dimensão praticamente virtual, numa Nano-dimensão, quilómetros cúbicos recheados de produtos do pensamento humano?
Na ânsia de criação de Inteligência artificial, não procuram os cientistas imitar/replicar a mente humana? Partindo da ideia de que é na mente que acontece o que mais se assemelha ao que tem sido proposto como atributo da 4ªD, a informática tem a propriedade de contrair quase infinitamente num microchip, realidades indissociáveis tanto do espaço como do tempo. Considere-se que os livros, por exemplo, não sendo mais do que objectos físicos, contêm aquilo que é de facto o produto por excelência do pensamento, e que em última instância conta, expresso em símbolos escritos que representam a palavra falada. As imagens, que desde a invenção da fotografia necessitava de suporte físico, estão agora libertas para a sua verdadeira natureza do domínio da luz, manipulada na expressão de sombra e de cor. O som, que não é mais do que um fenómeno físico – a vibração do ar provocada por causas naturais, por objecto ou artefacto, ou pala voz quer dos animais em geral, quer pelo homem na forma revolucionária da palavra, sendo dependente também do tempo, ao ser remetido e guardado no tal microchip, leva-nos a concluir que além de outras propriedades, pode também contrair e suspender o tempo. E ao ser guardado indefinidamente, revela também outro elemento importante que é a memória. Ao contrário da palavra, que se propaga pelo espaço, a memória não carece de espaço por residir numa suspensão do tempo. Ora, segundo aqueles investigadores, a contracção do espaço a e suspensão do tempo seriam atributos da 4ªD.
Tal como a arte transcende a matéria que a suporta porque estabelece a ligação/provocando/estimulando/despertando no observador alusões a factos e acontecimentos, e a emoções que são já imateriais e pertencentes à sensibilidade, que é outro dos atributos da mente, tanto a imagem como a palavra falada, escrita ou gravada em suporte magnético ou outros mais modernos, como o laser, ou a organização de nanopartículas energéticas por impulsos eléctricos, são gerados por entidades inerentes à 3ªD.Escapam à geometria euclidiana, não podem ser situadas num qualquer lugar do espaço, nem num instante preciso do tempo decorrente. São imateriais sem deixarem de ser reais, mas são realidades tão importantes que podem determinar alterações na realidade física.
As ideias apoiadas em conceitos que foram progressiva e cumulativamente elaborados pela mente humana, as ideias, comportam-se como aquele imaginário visitante da 4ªD que tudo sabe a nosso respeito, que pode num relance observar todos os pormenores do interior do nosso corpo, e que generosamente nos abre os olhos para aspectos menos evidentes da realidade 3D, que nos revela a existência da 4ªD, que ninguém consegue imaginar sequer, porque a preocupação fica virada para o exterior em vez de se debruçar sobre a interioridade, sobre aquilo que nos faz diferentes dos outros animais.
 É quase como afirmar que “Deuses somos nós, só que não o sabemos”.
Quem mais tem a capacidade de criar “do nada “, de alterar a paisagem física do planeta e os ecossistemas, de associar elementos diferentes produzindo novas entidades químicas? Quem mais consegue produzir artefactos para se libertar do jugo que a gravidade nos impõe?
Quem é que em última instância tem a possibilidade de fazer explodir um planeta, remetendo-o para o seu estado cósmico original?





Grande é o mais pequeno

Desde que o Homem se libertou do convencimento de que o mundo era plano, ao aperceber-se de que a Terra não era o centro do mundo; que o Sol não era o centro do Universo; quando se libertou do jugo do dogmatismo religioso, abismou-se progressivamente na grandeza do Cosmo. Compreender a mecânica celeste, penetrar no até então insondável âmago do Universo e compreender a complexidade de forças que o fazem funcionar, descobrindo as metamorfoses permanentes que ocorrem aleatoriamente (?) no seu interior revelando-o como um organismo com vida própria, vida essa que transcende a concepção biológica.
Questionar a sua forma no caso de ser finito, ou a sua infinitude, se é o único ou se há Pluriversos e havendo-os, se são contínuos, espaçados por vazios absolutos, ou se coexistem conglomerados no mesmo espaço ou em dimensões “paralelas”. Se, havendo vários, estão entranhados uns nos outros, mas reciprocamente incógnitos. Se a energia que organiza a matéria é igual ou diferente da que regula o “vazio”.
Foram questões que geraram (uma espécie de loucura no mundo da magia, do espiritismo, e no interior das religiões estruturadas) um afã na busca de um mito que persiste a escapar ao controlo da razão.

Nota – Não esquecer a capacidade de com uma espécie de “ciborg”, conduzir mentalmente à distância um pequeno robot.
Texto em bruto - Cambridge Abr2018……. 1ª revisão em 24 de maio2018