MATEMÁTICAS
Matemática é razão. É lógica.
Revela o sentido das coisas,
aquilo que nas coisas faz sentido.
Dizem os cientistas que o
Universo é matemático. Sendo assim, nada do que contém escapa à lógica da
matemática.
A substância das coisas, da
física à química, é revelada e explicada pela matemática.
A estudante sentada ao meu lado
desenvolve e resolve exercícios de álgebra sobre papel quadriculado ignorando a
quadrícula com se o fizesse em papel liso.
Esta liberdade (?) escapa ao
sentido matemático, à sua lógica e racionalidade? Se inscrevesse os
algarismos nos espaços da quadrícula, sem prejuízo do resultado, estaria
porventura a organizar matematicamente o produto do seu pensamento?
O pensamento, que se quer livre para
ser criativo, poderá ser estruturado matematicamente?
Que ilusão nos leva a supor que a
sua ordenação na quadrícula lhe retira a liberdade?
O fenómeno da vida está também
provado e demonstrado e manipulado matematicamente, ou não fosse conteúdo universal.
E a intuição? Poderá especular-se
matematicamente? A intuição desenvolve-se com recurso a instrumentos
sensoriais. A própria abstracção caldeia as várias dimensões dos sentidos, como
uma bola saltitona que fazendo um jogo de pólos magnéticos, não estando em
nenhum lugar concreto, acaba por estar em todo o lado. Algo como os Pontos de
Lagrange, abstracção que se situa por razões matemáticas no sítio de
equilíbrio/desequilíbrio determinado pelas gravidades diferenciadas de três
astros (ou às vezes mais?); mas este sítio não está fixo, é como se fosse um
nada que percorre indefinidamente regiões do espaço.
Assim, a imaginação que recorre a
“imagens”, ou melhor, a pseudo réplicas do
real pela via sensorial, como pode escapar a uma razão matemática? Que
matemática consegue (conseguirá?) explicar o pensamento?
O pensamento acontece pela
interacção de informações alojadas num “banco de dados” e que parece terem
dinâmica e autonomia próprias. Tentar explicar o fenómeno (os mecanismos?) do
pensamento, será como explicar as imprevistas trajectórias de dez bolas
saltitonas ou de dez mil, sobre uma qualquer superfície irregular, ou num
espaço indeterminado.
O sonho é isso; é a interacção de
informações que de comum só têm o sonhador. Poderá acontecer que a sua
articulação, a construção de um significado, só se dê, quando as informações se
aglutinam em volta, por exemplo, de uma emoção – os sonhos com história.
Perdem o sentido quando são
“contaminadas”com informações “parasitas” provenientes de outra “prateleira”. O
sonho é pensamento em roda livre.
A VONTADE
A vontade resulta, (será assim?)
do instinto, o instinto de sobrevivência (receio que seja uma perspectiva
redutora, mas avanço com ela…) e da experiência, como tal sujeita a
aprendizagem.
Durante o sono não há vontade,
porque a vontade é consciente. Sendo consciente pode organizar os pensamentos e
inclusivamente pensar a própria matemática.
Então se se pode organizar
matematicamente o imaginário, não será ela também, a vontade, um fenómeno
matemático? Será possível definir a sua essência de um ponto de vista
matemático?
Ou será aceitável que o
pensamento possa trabalhar a matemática, porque se situe eventualmente fora dos
conceitos matemáticos?
O EFEITO ESPELHO
Reflectir sobre esta questão
faz-me pensar:
O pensamento é a mais recente
manifestação da evolução (???). É o que permite ter a consciência do micro, e
do macro cosmos, e ter consciência da própria consciência e dos comportamentos
que sendo de cariz psicológico já não são matéria matematicamente explicável
mas que emana das suas acções. O maquinista que determina a dinâmica do
comboio, vai na carruagem da frente e, portanto, não vê a complexidade daquilo
que reboca.
O homem, podendo ver os outros
homens, só pode ver-se a si próprio com recurso a um elemento reflector. A água
em repouso, uma superfície sólida polida.
Como precisamos de artefactos
(espelho) para ver como somos, temos de recorrer a artifícios para descobrir
quem somos.
O espelho retrovisor permite ao
maquinista ver as carruagens.
O espelho da casa de banho
permite vermo-nos a nós próprios, organizar o nosso aspecto físico e actuar
sobre a componente social, mercê de uma interface entre a entidade e a sua
imagem. Permite estabelecer uma relação pessoa-objecto de análise, para se
entender, organizar, e actuar sobre o nosso aspecto físico e muitas vezes sobre
o estado de espírito e até da saúde. Assim somos simultaneamente essência e
exterioridade.
Esta condição ubíqua que nos
permite consciencializar, permite igualmente alterar organizando, segundo a
nossa vontade.
Será a vontade, simultaneamente
essência e exterioridade? Matemática e não matemática?
Reflectir sobre as novas
matemáticas do “caos” permite especular uma aproximação à natureza matemática
do pensamento e da vontade?
Hosp. Ortop. De Carcavelos
08 Jan 2007 10h45-11h50
Se fosse vivo o meu pai faria hoje 93
Fernando Fonseca
Revisto em 27Nov2009 Lytham st
Annes
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