quarta-feira, 17 de outubro de 2018


MATEMÁTICAS



Matemática é razão. É lógica.
Revela o sentido das coisas, aquilo que nas coisas faz sentido.
Dizem os cientistas que o Universo é matemático. Sendo assim, nada do que contém escapa à lógica da matemática.
A substância das coisas, da física à química, é revelada e explicada pela matemática.
A estudante sentada ao meu lado desenvolve e resolve exercícios de álgebra sobre papel quadriculado ignorando a quadrícula com se o fizesse em papel liso.
Esta liberdade (?) escapa ao sentido matemático, à sua lógica e racionalidade? Parece que, se inscrevesse os algarismos nos espaços da quadrícula, sem prejuízo do resultado, estaria porventura a organizar matematicamente o produto do seu pensamento?
O pensamento, que se quer livre para ser criativo, poderá ser estruturado matematicamente?
Que ilusão nos leva a supor que a sua ordenação na quadrícula lhe retira a liberdade?
O fenómeno da vida está também provado e demonstrado matematicamente ou não fosse conteúdo, universal.
E a intuição? Poderá especular-se matematicamente? A intuição desenvolve-se com recurso a instrumentos sensoriais. A própria abstracção caldeia as várias dimensões dos sentidos, como uma bola saltitona que fazendo um jogo de pólos magnéticos, não estando em nenhum lugar concreto, acaba por estar em todo o lado. Algo como os Pontos de Lagrange, abstracção que se situa por razões matemáticas no sítio de equilíbrio/desequilíbrio determinado pelas gravidades diferenciadas de três astros (ou às vezes mais?); mas este sítio não está fixo, é como se fosse um nada que percorre indefinidamente regiões do espaço.
Assim, a imaginação que recorre a “imagens”, ou melhor, a  pseudo réplicas do real pela via sensorial, como pode escapar a uma razão matemática? Que matemática consegue (conseguirá?) explicar o pensamento?
O pensamento acontece pela interacção de informações alojadas num “banco de dados” e que parece terem dinâmica e autonomia próprias. Tentar explicar o fenómeno (os mecanismos?) do pensamento, será como explicar as imprevistas trajectórias de dez bolas saltitonas ou de dez mil, sobre uma qualquer superfície irregular, ou num espaço indeterminado.
O sonho é isso; é a interacção de informações que de comum só têm o sonhador. Poderá acontecer que a sua articulação, a construção de um significado, só se dê, quando as informações se aglutinam em volta, por exemplo, de uma emoção – os sonhos com história.
Perdem o sentido quando são “contaminadas”com informações “parasitas” provenientes de outra “prateleira”. O sonho é pensamento em roda livre.

A VONTADE
A vontade resulta, (será assim?) do instinto, o instinto de sobrevivência (receio que seja uma perspectiva redutora, mas avanço com ela…) e da experiência, como tal sujeita a aprendizagem.
Durante o sono não há vontade, porque a vontade é consciente. Sendo consciente pode organizar os pensamentos e inclusivamente pensar a própria matemática.







Então se se pode organizar matematicamente o imaginário, não será ela também, a vontade, um fenómeno matemático? Será possível definir a sua essência de um ponto de vista matemático?
Ou será aceitável que o pensamento possa trabalhar a matemática, porque se situe eventualmente fora dos conceitos matemáticos?

O EFEITO ESPELHO
Reflectir sobre esta questão faz-me pensar:
O pensamento é a mais recente manifestação da evolução (???). É o que permite ter a consciência do micro, e do macro cosmos, e ter consciência da própria consciência e dos comportamentos que sendo de cariz psicológico já não são matéria matematicamente explicável mas que emana das suas acções. O maquinista que determina a dinâmica do comboio, vai na carruagem da frente e, portanto, não vê a complexidade daquilo que reboca.
O homem, podendo ver os outros homens, só pode ver-se a si próprio com recurso a um elemento reflector. A água em repouso, uma superfície sólida polida.
Como precisamos de artefactos (espelho) para ver como somos, temos de recorrer a artifícios para descobrir quem somos.
O espelho retrovisor permite ao maquinista ver as carruagens.
O espelho da casa de banho permite vermo-nos a nós próprios, organizar o nosso aspecto físico e actuar sobre a componente social, mercê de uma interface entre a entidade e a sua imagem. Permite estabelecer uma relação pessoa-objecto de análise, para se entender, organizar, e actuar sobre o nosso aspecto físico e muitas vezes sobre o estado de espírito e até da saúde. Assim somos simultaneamente essência e exterioridade.
Esta condição ubíqua que nos permite consciencializar, permite igualmente alterar organizando, segundo a nossa vontade.
Será a vontade, simultaneamente essência e exterioridade? Matemática e não matemática?
Reflectir sobre as novas matemáticas do “caos” permite especular uma aproximação à natureza matemática do pensamento e da vontade?

Hosp. Ortop. De Carcavelos
08 Jan 2007 10h45-11h50
Se fosse vivo o meu pai faria hoje 93


Fernando Fonseca





Revisto em 27Nov2009 Lytham st Annes

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