quarta-feira, 17 de outubro de 2018



Candidatos a fazedores de infernos.
(texto original)


Há um ser vivo,
redondo
espacial…
Um mundo lindo
azul,
sem igual,
com um equilíbrio
ecológico
original.

E nele,
uma espécie de micróbios
convencidos (para seu mal),
portadores de um vírus
tecnológico fatal,
de um sentimento
de conquista
territorial,
de uma ânsia
de poder
total.
Mas tanta vida banida
à escala mundial
por vontade do poderoso
micróbio racional,
cria uma sensação
de insegurança
geral.

Procura-se remédio
para curar este mal.

Escrevi este poema há cerca de vinte e cinco anos.
Hoje a Califórnia, em Julho o incêndio que devorou a Grécia transformando todo o Peloponeso num imenso braseiro, fizeram-me fantasiar a hipótese de todo o planeta em chamas.
Quando ardeu Chernobyl imaginei que o urânio em fusão, por ter o átomo mais pesado que qualquer outra matéria, poderia eventualmente, afundar-se até ao núcleo do planeta originando uma imensa explosão nuclear que se estenderia a todo o sistema solar com uma magnitude superior à do Sol. Um “acontecimento” desses, devendo-se mais aos responsáveis políticos do que aos cientistas, justificaria para a Humanidade o epíteto póstumo de “Fazedores de estrelas”.
Antes aconteceu Hiroxima e Nagasaki.
São relativamente recentes as informações sobre atentados ao ambiente, provocados pelo homem, mas desde que me lembro, ouço falar de guerras. Variados ao longo da história, inventam-se sempre novos pretextos, e a notícia delas, é profusa, instantânea, persistente, penetrante.
Por oposição, lê-se que nunca se falou tanto de paz e acredito, que a convergência em busca dela seja proporcional à extensão dos conflitos. Pertencente ao passado, o espírito de aldeia auto-suficiente solidário apesar de tudo, a noção de território expandiu-se, a realidade conhecida diversificou-se, e com estas mudanças tanto a agressão como o entendimento são mais globais.
O Apocalipse, conceito bíblico, é anunciado por adivinhos e profetas desde há milhares de anos. Quando eu tinha nove ou dez anos as mulheres (principalmente), encheram a igreja da minha aldeia apavoradas, pedindo a Deus a salvação, sua e dos seus, porque o mundo ia acabar dali a dias. Afinal não acabou.
Nos anos oitenta, um dos meus projectos favoritos era conceber e desenhar abrigos nucleares, contra a latente guerra global, “garantida” pelos dois grandes blocos imperialistas, na corrida à hegemonia dos povos. Desses anos, saudavelmente, ficaram apenas alguns, poucos, poemas de conflito e de morte.
Cobiça, exploração do semelhante, violência gratuita, apetite de poder, isolados ou associados, estão sempre presentes em todos os

conflitos. Até mesmo as motivações religiosas não se conseguem dissociar de qualquer forma de poder.
O humano é, até se provar o contrário, o único ser da Natureza que reivindica os seus direitos de propriedade e arbítrio sobre o planeta e arredores. Fá-lo provavelmente, pela mesma razão porque alguns de entre os homens, ascendem ao lugar de monarcas “por direito divino,” “Deus criou o Homem à sua imagem e semelhança e deu-lhe a Terra e tudo o que nela havia”. (Génesis).
O uso da ciência e sobretudo da tecnologia, perspectivadas com a finalidade de melhorar as condições de vida, e a promessa de libertar o homem para a elevação do espírito, revela-se um fiasco, e tornaram-se em simultâneo com as vantagens inegáveis, instrumentos para confortos exagerados. Todos os dias se inventam necessidades novas; A relação das necessidades com os recursos alterou-se historicamente e está definitivamente desequilibrada.
(Há uma espécie de aranhas que ao nascer devoram a mãe, mas que dispõem de um lugar e meios para repetir a acção predadora indefinidamente).
E o Homem que faz? O progresso e conforto pagam-se no futuro; mas o futuro só deixa vislumbrar uma imensa bancarrota ecológica.
As florestas são queimadas, as cidades arrasadas, o ozono desaparece, os glaciares liquefazem-se, surpreendem-nos novas doenças. Que esperança nos resta?
Razão porque hoje, surpreendi uma ideia parasita a assediar-me o pensamento:
“Afinal quem criou o Homem foi o Diabo, tentando fazê-lo à semelhança de Deus.
 Se o conseguisse colocar-se-ia num patamar supra divino”.

Os Homens poderão não tornar-se em fazedores de estrelas, mas são sérios candidatos a fazedores de infernos.

Entre os meridianos 45º e 60º(W) a 36.000 pés de altitude - sentido leste oeste 530 mph, -50º
27Out200720h30m

Fernando Fonseca

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