Candidatos a fazedores de infernos.
(texto original)
Há um ser vivo,
redondo
espacial…
Um mundo lindo
azul,
sem igual,
com um equilíbrio
ecológico
original.
E nele,
uma espécie de micróbios
convencidos (para seu mal),
portadores de um vírus
tecnológico fatal,
de um sentimento
de conquista
territorial,
de uma ânsia
de poder
total.
Mas tanta vida banida
à escala mundial
por vontade do poderoso
micróbio racional,
cria uma sensação
de insegurança
geral.
Procura-se remédio
para curar este mal.
…
Escrevi este poema há cerca de
vinte e cinco anos.
Hoje a Califórnia, em Julho o
incêndio que devorou a Grécia transformando todo o Peloponeso num imenso
braseiro, fizeram-me fantasiar a hipótese de todo o planeta em chamas.
Quando ardeu Chernobyl imaginei
que o urânio em fusão, por ter o átomo mais pesado que qualquer outra matéria, poderia
eventualmente, afundar-se até ao núcleo do planeta originando uma imensa
explosão nuclear que se estenderia a todo o sistema solar com uma magnitude
superior à do Sol. Um “acontecimento” desses, devendo-se mais aos responsáveis
políticos do que aos cientistas, justificaria para a Humanidade o epíteto
póstumo de “Fazedores de estrelas”.
Antes aconteceu Hiroxima e
Nagasaki.
São relativamente recentes as
informações sobre atentados ao ambiente, provocados pelo homem, mas desde que
me lembro, ouço falar de guerras. Variados ao longo da história, inventam-se
sempre novos pretextos, e a notícia delas, é profusa, instantânea, persistente,
penetrante.
Por oposição, lê-se que nunca se
falou tanto de paz e acredito, que a convergência em busca dela seja
proporcional à extensão dos conflitos. Pertencente ao passado, o espírito de
aldeia auto-suficiente solidário apesar de tudo, a noção de território
expandiu-se, a realidade conhecida diversificou-se, e com estas mudanças tanto
a agressão como o entendimento são mais globais.
O Apocalipse, conceito bíblico, é
anunciado por adivinhos e profetas desde há milhares de anos. Quando eu tinha
nove ou dez anos as mulheres (principalmente), encheram a igreja da minha
aldeia apavoradas, pedindo a Deus a salvação, sua e dos seus, porque o mundo ia
acabar dali a dias. Afinal não acabou.
Nos anos oitenta, um dos meus
projectos favoritos era conceber e desenhar abrigos nucleares, contra a latente
guerra global, “garantida” pelos dois grandes blocos imperialistas, na corrida
à hegemonia dos povos. Desses anos, saudavelmente, ficaram apenas alguns, poucos,
poemas de conflito e de morte.
Cobiça, exploração do semelhante,
violência gratuita, apetite de poder, isolados ou associados, estão sempre
presentes em todos os
conflitos. Até mesmo as
motivações religiosas não se conseguem dissociar de qualquer forma de poder.
O humano é, até se provar o
contrário, o único ser da Natureza que reivindica os seus direitos de
propriedade e arbítrio sobre o planeta e arredores. Fá-lo provavelmente, pela
mesma razão porque alguns de entre os homens, ascendem ao lugar de monarcas “por
direito divino,” “Deus criou o Homem à
sua imagem e semelhança e deu-lhe a Terra e tudo o que nela havia”.
(Génesis).
O uso da ciência e sobretudo da tecnologia,
perspectivadas com a finalidade de melhorar as condições de vida, e a promessa
de libertar o homem para a elevação do espírito, revela-se um fiasco, e
tornaram-se em simultâneo com as vantagens inegáveis, instrumentos para
confortos exagerados. Todos os dias se inventam necessidades novas; A relação
das necessidades com os recursos alterou-se historicamente e está
definitivamente desequilibrada.
(Há uma espécie de aranhas que ao
nascer devoram a mãe, mas que dispõem de um lugar e meios para repetir a acção predadora
indefinidamente).
E o Homem que faz? O progresso e
conforto pagam-se no futuro; mas o futuro só deixa vislumbrar uma imensa bancarrota
ecológica.
As florestas são queimadas, as
cidades arrasadas, o ozono desaparece, os glaciares liquefazem-se, surpreendem-nos
novas doenças. Que esperança nos resta?
Razão porque hoje, surpreendi uma
ideia parasita a assediar-me o pensamento:
“Afinal quem criou o Homem foi o
Diabo, tentando fazê-lo à semelhança de Deus.
Se o conseguisse colocar-se-ia num patamar
supra divino”.
Os Homens poderão não tornar-se
em fazedores de estrelas, mas são sérios candidatos a fazedores de infernos.
Entre os meridianos 45º e 60º(W) a 36.000 pés de altitude - sentido
leste oeste 530 mph, -50º
27Out200720h30m
Fernando Fonseca
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