quinta-feira, 29 de novembro de 2012

CONFORMISTAS?



CONFORMISTAS?


                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             
Escrevi há cerca de quinze dias a propósito da Dívida Soberana, que os desabafos e comentários que todos fazemos, são a dimensão individual, do que se escreve todos os dias na imprensa escrita. As televisões todavia, andam arredadas destes pormenores que fazem o trabalho ainda que relativo, de despertar a nossa consciência acerca do descalabro a que chegou este país.
Apontei entre outras razões, a do       cidadão consumidor, e a dos governantes que tomam medidas em contra-corrente com as verdadeiras necessidades do país, e ainda a obscura corrupção, e dos saques dirigidos à “coisa pública” levados a cabo por indivíduos e por organismos. Acentuava naquele texto, o estranho incómodo que os mesmos desabafos me dão, por acentuarem a sensação de incapacidade colectiva de intervir positivamente no processo.
(Quem quer, faz; quem não quer, manda fazer!- prov. Pop)
Fora dos dois meios de comunicação referidos, surge agora a Net, que por enquanto não tem dono que lhe ponha açaimo.
É por essa razão uma tribuna onde se pode exercer a livre expressão, com dezenas de denúncias por dia, algumas delas documentadas, mas infelizmente raríssimas com indicação de autor, que nos denunciam a podridão moral de umas dúzias de “figuras importantes” que, com o ar mais tranquilo deste mundo, se reconfortam em cómodas administrações de empresas privadas com actividade em sectores ligados a ministérios e outros serviços públicos, onde anteriormente desempenharam funções governativas ou outras, que lhes permitiam decidir em favor das ditas empresas.
Assim como o referido correio chega ao meu PC, não tenho a menor dúvida de que chegue ao correio electrónico dos visados, nem ao Procurador-Geral da República, dos governantes e dos líderes partidários, responsáveis que, no imediato, deveriam dispor dos recursos para pôr fim e esta total ausência de vergonha.
Mas como o sistema está infectado de leis permissivas, todos consideram legítima a ascensão dos visados ao Olimpo. Como citava um articulista do Expresso, ”a ocasião faz o ladrão”.
Não surpreende já que o Partido Socialista tivesse votado, praticamente contra todas as propostas de lei, destinadas a criminalizar o enriquecimento ilegítimo.
Mas como também referi no texto  “DÍVIDA SOBERANA”, os poderosos sorriem com desdém à vista desta revolta surda que tarda em levantar-se do “chão”.
Conseguem dormir sossegados porque sabem que o Povo, na sua extensão, apesar de saber não tem capacidade crítica nem de organização, para se mobilizar contra o desgoverno e contra o roubo legitimado.
Perante este quadro real, comentamos com quem está ao alcance da voz, ou na sua falta, com os nossos botões: - “Ao que isto chegou! Não haverá maneira de acabar com isto?
Compreendo perfeitamente o comentário de Otelo, quando há cerca de um mês afirmou que, se a situação chegar a um ponto de extrema gravidade, isto só acaba com outro 25 de Abril. Sei que há muita gente que acredita no mesmo.
Percebo também até que ponto, outros “Homens de Abril” se insurgiram contra aquela declaração. Mas se lhes perguntarmos como pensam eles contribuir, para alterar o que nos afecta a todos, por ventura não o saberão, ou então, dirão que só no quadro legal vigente.
Ora o que se passa é que é precisamente o ”quadro legal vigente“ quem protege e permite que os “lesa-pátria” continuem impunes e activos.



Bem sei, todos sabemos, que o 25 de Abril tinha legitimidade, pela insurreição contra uma ditadura nascida do golpe de estado militar, de 1926. E que esta tentou sempre legitimar-se através de actos eleitorais, quase sempre falsificados. (entre outros mais comuns, fui impedido de expressar o sentido do meu voto, quando nas eleições de 1968, pois por determinação superior, o meu voto contava a favor do governo, por motivo de estar a prestar serviço militar). Mistificava-se nessa época, que Governo e Estado eram a mesma coisa.
Agora confunde-se uma política conduzida por testas de ferro com Democracia, sabendo, como todos sabemos, que nos últimos 25 anos, não houve governo que não tivesse legislado, no exacto sentido contrário das promessas que levaram o Povo a confiar-lhes o Poder. Esta é uma forma de ditadura mascarada de engano e de má-fé. Salazar também se achava legitimado para governar com mão de ferro. Será esta menos má, do que a ditadura do Estado Novo, só porque dispomos (ainda) da liberdade de expressão?
Quantos portugueses estão como eu, a sentir-se impotentes perante esta nova geração de vampiros?
Em 1974, foi um Povo apanhado de surpresa que substanciou a legitimidade do MFA, apesar de haver também naquele Movimento, militares, para quem a Democracia não era o principal objectivo a atingir.
Admitamos que o conhecimento dos factos fomenta esta revolta surda. Começando ela a ser audível, e se o seu clamor se tornar ensurdecedor greve geral após greve geral ao ponto de o governo exercer repressão, iremos ver as Forças Armadas tomarem de novo o partido do Povo?
Chamo a atenção para o facto de, ao contrário de todos os outros ministérios com destaque para a Saúde, a Educação, e a Cultura, que sofreram cortes substanciais, o MAI foi o único a ver reforçado o seu orçamento. Terá o Governo de Paços Coelho adivinhado a necessidade futura de reprimir movimentos de contestação? Irão as forças de Segurança optar por quem lhes acrescentou o soldo ou satisfez certas reclamações, com o argumento, (na minha opinião defraudado), de que vivemos em democracia e que uma reposição da vontade popular por métodos revolucionários, nos faria mal vistos pela Comunidade Internacional?
A Comunidade Internacional, tendo de facto a influência que tem, não é nenhuma figura impoluta e isenta, como mostram à saciedade os vários acontecimentos dos últimos 20 anos em todo o mundo, com destaque para a desequilibrada argumentação relativa às intervenções e ausência delas, nas recentes revoltas árabes.
A minha convicção é a de que, quando um Povo se  injustiçado, a força da sua razão impulsiona-o a tomar as medidas que sente mais adequadas para repor a justiça e uma verdadeira Democracia, e a impor uma Constituição extirpada de atalhos ocultos, no emaranhado de Decretos-Lei, de Despachos e Portarias redigidos por especialistas na criação ângulos mortos, para benefício de quem as contorna subvertendo a moral do Estado.
As revoluções (de cravos ou de balas) só deixarão de existir, quando se instaure um Estado que aposte na pedagogia do exemplo, na formação cívica, numa educação crítica e esclarecida, na criatividade consequente e na ética. A par, não de uma Justiça cega, como é apanágio dos seus agentes, mas de olhar atento ao crime, e decidida na punição de criminosos que se escudam em recursos sem fim.
Até agora, ainda nenhum governo deste país esteve interessado numa política de transparência, antes promovendo o “show off” das aparências, o favor, e a despudorada e egocêntrica competição pelo “lugar ao Sol”.
(´bora lá fazer mais pobres para ficarmos mais ricos. Hé!Hé!Hé!)
Nero, St. Annes On The Sea, 03Dez2011
Fernando Fonseca *
                                                                                                                            *Escultor - Professor dos 2º e 3º ciclos (aposentado)
                                                                                                                                                                                                                      


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