EUROPA
Claro que gostaria de viver numa Europa onde qualquer cidadão
fosse qual fosse a região de origem, sentisse que estava na
sua terra.
Essa foi a ideia de Europa que se nos entranhou nos sentidos,
quando após a 2ª Guerra, com a destruição em larga escala provocada pela
agressividade hegemónica do Nacional Socialismo de Hitler, pensadores
visionários e estadistas semearam a ideia de unir num grande sentimento comum,
todas as populações, do grande puzzle constituído pelos países do ocidente
europeu, única maneira de acabar com as agressões entre os respectivos estados.
Não deverá ter sido alheio a este desejo, e o conhecimento do
processo que na América do Norte constituiu os EUA, nem a acção desenvolvida
por Gandhi que conseguiu reunir numa grande nação uma miscelânea de povos
diferentes que povoavam a India, com o duplo objectivo de eliminar o
colonialismo britânico e construir uma identidade nacional.
Só a construção de uma unidade dos povos europeus poderia
assegurar a paz, pondo fim a um belicismo presente nos mais de dois mil anos de
História europeia, mas diferentemente das grandes campanhas que anteriormente
pretendiam uma Europa num só estado sob o domínio de um conquistador guerreiro,
como o foi a invasão de Átila até ao nazismo de Hitler passando pelo
carismático Napoleão Bonaparte, a construção de uma Europa Humanista,
solidária, coesa, só seria possível se fosse realizada sob ideias de uma
comunhão de interesses, e na prossecução da dignidade dos povos que a
compunham.
Ainda por sarar as feridas da última guerra, Jean Gabin e
outros alimentando a mesma utopia, apontaram o objectivo elevado em termos
económicos e de justiça social, éticos e culturais, todos, valores associados
às grandes conquistas dos povos desde o Sec. XIX. O Projecto, que no seu cerne
teria de considerar aquilo que constitui verdadeiramente as nações, os seus
povos, só poderia ser a União de uma
Europa dos Povos.
Foi esse o sonho que nos fizeram sonhar, além de Jean Gabin,
Willy Brandt, Helmut Khol, Jaques Delors, só para citar os mais mediáticos. O
nosso Mário Soares, na mesma linha de ideais, quis promover a integração de
Portugal no movimento unificador.
Mas… Não há revolução de puros ideais que consiga manter a
pureza inicial.
Há sempre os que, perante uma mudança anunciada se apressam a
mudar de pele como o camaleão, e os inúteis que sem terem feito de positivo na
vida, correm para a frente para ficar com os melhores lugares.
Se por um lado os homens que governam os países europeus
acreditaram que era esse o futuro, depressa se expandiram os portentados
económicos graças aos avanços tecnológicos, e aos negociantes de dinheiro, que
tomaram de assalto os lugares-chave da acção política, passando a mandar o
poderio financista.
Salvo honrosas excepções a generalidade dos políticos sob a
capa de democratas, actuam como testas de ferro dos interesses capitalistas.
Veja-se a cobertura que muitos deputados europeus estão a dar à vontade de
multinacional Monsanto para obter a patente legal de sementes que são
património da Humanidade de modo a obter o controlo da produção de alimentos à
escala global.
Por outo lado a obsceno rol de mordomias e compensações que
usufruem, nega o princípio da moralidade da lealdade e da solidariedade face à
degradação económica que grassa nos seus países.
Contam-se pelos dedos das mãos as medidas educativas para a
criação de mentalidades solidárias entre os povos de diversas etnias,
tendências culturais ou religiosas. Contrariamente mantêem-se mentalidades
nacionalistas, revanchistas e xenófobas. Um panorama que serve os interesses
dos grandes grupos económicos, na medida em que obsta ao entendimento
harmoniosos das várias nações europeias.
São os grandes grupos económicos quem dita as linhas
condutoras da política comum, e contraditoriamente são os dois países mais
destruídos com a guerra e que mais devem a sua recuperação aos estados
solidários, e aos trabalhadores que ali se deslocaram para co o seu esforço
reerguerem a grandeza anterior, manifestam agora com arrogância para com os
mais pobres, sinais de quererem subjugar aqueles que tanto os ajudaram visando
agora lucrar com os empréstimos destinados a “salvar” as economias periféricas.
Quererão eles agora conseguir pelo dinheiro o que Napoleão
não conseguiu pelas armas nem Hitler pela eliminação de uns e a escravização de
todos os outros que não tendo afinidades étnicas com os germanos, eram
considerados impuros e inferiores?
Pelas considerações acima apresentadas penso que só um
movimento Pan-Europeu de cidadãos esclarecidos, e liderados pelos valores
universais da solidariedade e da equidade social, como por exemplo próximo o da
Noruega, conseguirá alterar esta política fomentadora do desemprego, e por
consequência da miséria que facilita a sujeição aos desígnios daquela gente.
Há que lembrar a História, para não repetir erros no futuro.
S. Teotónio24Nov 2011
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