quinta-feira, 29 de novembro de 2012

OS FRUTOS DA REVOLUÇÃO FRANCESA



FRUTOS DA REVOLUÇÃO

Escrevi há dois dias que é preciso “derrubar o castelo de cartas e reorganizar os naipes, pois só a rotura política e social permite corrigir os desmandos do Poder”.
Hoje, ao reler “NOVENTA E TRÊS” de Victor Hugo, penso que tenho de clarificar a expressão “derrubar o castelo de cartas…”.
Somos todos os dias confrontados com mais decisões do Governo de Passos, que visam acima de tudo, lesar o povo em benefício de intermediários, grandes empresas monopolistas com rendas do Estado, de multinacionais, de ladrões e vigaristas na administração pública que se furtam a uma justiça compassiva lasciva e impotente, com leis cúmplices boas para banqueiros, agiotas e especuladores de toda a espécie.
Está mais que provado, que a simples rotura política não resolve o problema de fundo.
Neste estado de coisas, sinto, como dizia na mesma carta a uma amiga, que o meu maior incómodo enquanto cidadão deste Portugal, é sentir-me impotente contra o roubo sistemático e a agressão moral, por parte daqueles em quem o povo alegadamente confiou.
Ao caminheiro descalço, a caminhada desenvolve calos que o protegem da gravilha dos caminhos.
Milímetro a milímetro têm vindo os Governos a amansar o povo. Este, acostumando-se com aparente inocuidade, viu a sua mansidão ocasional tornar-se com o tempo, em questão temperamental.
Mas ao contrário dos calos, a habituação não nos protege de coisa nenhuma. Pelo contrário, anestesia a úlcera que nos devora. Já não somos capazes de reagir adequadamente, porque nos fizeram acreditar que a violência, mesmo quando adequada e justa, “parece mal” sobretudo perante a “comunidade internacional”.
 A lei do mais forte sempre dominou e continuará a impor-se, tão determinadamente como a lei da gravidade. Enquanto o povo, esse oceano de vontades, não for capaz de mostrar a sua força e determinação, o Estado continuará a exaurir-nos até que cada um de nós implore um dia de trabalho por uma tigela de sopa.
De pressão em pressão se faz a opressão.
E que fazemos nós? Disfarçamos o nosso masoquismo manifestando-nos, desabafando entre nós, trocando e-mails a denunciar os escândalos, mas não fazemos nada.
Afirmamos a nossa indignação. E a seguir o que fazemos? Voltamos a afirmá-la, outra e outra vez!
“Eles” sabem que nos ficamos por aí. Que continuaremos a encaixar mais sacrifício, como se por fim ganhássemos o céu. Porque somos um povo ”pacífico”, “sereno”, “cordato” – civilizado.
Cinquenta anos depois, voltei a ler a extraordinária caracterização de Victor Hugo sobre a CONVENÇÂO de 1793; barafunda, confusão, o caos, as invejas, as traições, os crimes, as execuções pouco mais do que – ou mesmo – sumárias, baseadas em levianas denúncias ou simples suspeitas.
O risco e a dor são inseparáveis do parto. E maravilhei-me com o que naquela fornalha infernal se forjou.
Transcrevo os frutos da CONVENÇÃO de Paris segundo Victor Hugo, 80 anos depois dos acontecimentos, em “NOVENTA E TRÊS” – Terceiro livro – A Convenção – parte IX:
“Ao mesmo tempo que deixava evolar-se a revolução, esta assembleia produzia a civilização.
Fornalha, mas forja. Nesta tina em que fervia o terror, fermentava o progresso. Deste caos de sombra e desta tumultuosa fuga de nuvens, saíam imensos raios de luz paralelos às leis eternas. Raios que ficaram no horizonte, visíveis para sempre no céu dos povos, e que são um a justiça, outro a tolerância, outro a bondade, outro a razão, outro a verdade, outro o amor. A Convenção promulgava este grande axioma: - A liberdade do cidadão termina onde começa a doutro cidadão; o que resume em duas linhas toda a sociabilidade humana. Declarava a indigência sagrada; declarava a enfermidade sagrada no cego e no surdo-mudo tornados pupilos do estado, a maternidade sagrada na mulher-mãe que consolava e levantava, a infância sagrada no órfão que fazia adoptar pela pátria, a inocência sagrada no acusado absolvido a quem indemnizava. Prescrevia o tráfico de negros; abolia a escravatura. Proclamava a solidariedade cívica. Decretava a instrução gratuita. Organizava a educação nacional com a escola normal de Paris, a escola central nas capitais dos distritos e a escola primária na comuna. Criava as conservatórias e os museus. Decretava a unidade do código, a unidade de pesos e medidas, a unidade do cálculo pelo sistema decimal.
Fundava as finanças da França e à longa bancarrota monárquica fazia suceder o crédito público. Dava à circulação o telégrafo, à velhice os hospícios dotados, à doença os hospitais purificados, ao ensino a escola politécnica, à ciência a repartição das longitudes, ao espírito humano o instituto. Ao mesmo tempo que era nacional era cosmopolita. Dos doze mil duzentos e dez decretos que saíram da Convenção, um terço tem um fim político e os dois terços um fim humanitário. Declarava a moral universal base da sociedade e a consciência universal base da lei. E tudo isto, servidão abolida fraternidade proclamada, humanidade protegida, consciência humana rectificada, lei do trabalho transformada em direito e de onerosa tornada benéfica, infância esclarecida e assistida, letras e ciências propagadas, luz acesa em todas as eminências, auxílio a todas as misérias, promulgação de todos os princípios, a Convenção fazia-o tendo nas entranhas uma hidra – a Vendea, e nos ombros uma cáfila de tigres, - os reis”.
Eis como a humanidade deu um salto de gigante.
O governo de Passos Coelho ao serviço de estrangeiros e de nacionais que arrecadam lá fora o que nos vão subtraindo, procura ao revés da História, eliminar todas estas conquistas que são essenciais para a dignidade do Homem.
Mais cedo do que tarde hão-de unir-se os ventos dispersos, para num vendaval limparem os ramos podres da floresta.
Lytham St.Annes 19set2012
F.Fonseca







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